quarta-feira, abril 28, 2010

Isto é o que acontece quando se descobre o caminho ao pé coxinho para a India


O maior dilema da vida de qualquer pessoa ocorre numa noite de calor primaveril. Ondas de mosquitos, suficientes para abater toda a frota aérea de combate do Uganda (composta por dois balões circenses de hidrogénio e um avião de papel feito por um traficante de coelhos da páscoa) irrompem pelo quarto adentro usando os seus poderes de bater com os chavelhos no vidro até encontrar a fresta, procedendo à mesma técnica com a persiana. E quando no habitáculo do pobre e incauto matarro rapidamente procedem a devorar as entranhas do coitado. É aqui que a sua vida se vê pelo que realmente foi. Um quarteto de violinos no fundo com uma música triste e fotografias dos seus momentos mais felizes. O que fazer? Pôr a cabeça de fora exige nervos de aço para resistir aos voos baixos destes emissários do diabo. Mantê-la debaixo dos cobertores provoca uma transpiração descontrolada, o homem arrepende-se de ainda não ter mudado para roupa de verão. Decidir fazê-lo agora também não parece uma boa opção já que isso implicará ser picado pelo menos uma vez, com todas as ramificações previstas por um encontro com a criatura mais feroz do mundo animal, nomeadamente uma baba (nome que não percebo porque as minhas nunca babaram).

A resposta ao problema é bastante óbvia: não é praticável contratar o Sr. Miyagi para os apanhar a todos com pausinhos chineses, não pelo seu custo à hora mas porque depois obriga-nos a encerar-lhe o carro, pintar a vedação e ainda lutar com um panasca qualquer com conflitos parentais. Do mesmo modo fechar a janela está fora de questão, primeiro porque já é tarde demais, segundo porque se não fosse este texto era inútil e tal não pode acontecer! A única solução plausível e inteiramente razoável é a construção de um sistema de ventilação intra-lençóis embutido no prédio e colocação de uma rede de mosquitos gigante em volta do mesmo. Também será boa ideia colocar posters dos tokyo hotel em volta dos recintos, confundindo os mosquitos e fazendo-os crer que já passaram por lá abutres que desfiguraram as criaturas.
Segundo o instituto de estatística do Botswana, empresa pai do Alisuper, 9 em cada 10 mortes em Portugal são atribuíveis a mosquitos (segundo a teoria do efeito borboleta, considerando os mosquitos mutantes japoneses). Não se podem permitir mais mortes injustificadas quando a tecnologia existe para salvar milhões de vidas.

Colabore. Compre um lápis de carvão aos escuteiros por 25€ e os brincos de prata da sua avó.

Apocalipse mental

Há quanto tempo… desta não prometo nova assiduidade, só vim escrever umas linhas porque é tarde e apetece-me. Não me interessa sequer se o meu cão não está a ler, ele tem mais com que se preocupar, agora que lhe removeram cirurgicamente os testículos, podiam ao menos ter posto umas bolinhas protésicas para ele não andar ali com um saco vazio feito pedinte em terra de pobre. Seguindo esta linha de pensamento também não vim escrever um texto engraçado, mesmo que a ínfima massa de “seguidores” deste esquecido espaço apenas esteja interessada nisso. Hoje o meu diário é público.

Lembram-se daquela música dos REM, “losing my religion”? Ao menos o título toda a gente sabe, mais duas ou três linhas, na verdade todos gostam de REM e ninguém gosta ao mesmo tempo e isso entende-se por alguma banalidade do género e letras que não são nem empolgantes nem aborrecidas. Bom, eu perdi a minha religião. Eu esqueci que deus existia (como denoto ao já não usar maiúscula no seu chamamento) e privatizei a igreja e todas as colectas de um produto inútil e inacabável. Se querem fazer dinheiro comigo, vendam-me pirilampos mágicos ou jornais da escola, em última instância lápis de carvão que apesar do constante acumular se compram mais e a preços surpreendentemente altos.

E sabem que mais? Sinto-me bem! É libertador meter-me na cama e saber que estou inteiramente entregue a mim próprio, sem forças externas a governar o meu caminho ou possibilidades de apelos para que alguma entidade caracteristicamente personificada com uma barba de pai natal (primeira pista de que não existe mesmo). O que posso fazer do mundo é inteiramente minha responsabilidade e o que não posso não o é e como tal também não deve ser minha preocupação. Nem sempre funciona tão linearmente, a mente é um esgoto muito sujo com pensamentos distorcidos e cabelo.

Gostaria de explicar o que me fez abrir os olhos mas a realidade é que foi um processo de progressivas desilusões que me atiraram para o penúltimo patamar da pirâmide de Maslow. E quando voltei a ter tempo para considerar a transcendência entendi que não precisava dela, mais ainda, era-me prejudicial. E agora posso fazer piadas de mau gosto, mandar piropos absurdos, abster-me de praticar boas acções e poluir o planeta sem pensar se vou ou não parar ao céu. Entretanto na minha meia-idade já haverão low-costs para a órbita, isso nem se põe em causa, certo? E continuo a não fazer qualquer das anteriores abusivamente porque é a minha forma de ser. E a nobreza das boas acções está em praticá-las não por medo mas por sentido de justiça e moral. Mas essa também está nas ruas da amargura.

A moral é um peso excessivo. É o parafuso apertado demais na cabeça de alguns que permite aos outros tomarem partido destes. É um empecilho e eu infelizmente não me livro dela tão depressa. Já se vai virando o olhar para o outro lado mas nada de “grave”.

O Homem é um animal como os outros. Pomos outros mamíferos de fato a organizar a nossa vida, ajudamos desconhecidos porque sim e agregamos os impulsos em bolhas de silêncio mas isso é apenas negar a nossa natureza. Somos capazes de pensar na nossa condição e o que fazemos? “Esqueçam isso, vamos ser miseráveis para os outros não estarem sozinhos!” Não se ouve isto tão frequentemente mas muitos trabalham para apoiar esta frase que deixa qualquer um sem palavras.

Não vou dizer mais. Quero que sejam todos muito altruístas. Tiram-me preocupações da sacola. Eu vou viver um pouco mais para o meu umbigo. Comer bem, estudar, ajudar-me. Não me ajudo o suficiente. E isso tem que mudar.


Hoje é o dia.