terça-feira, agosto 19, 2008

Norte vs. Sul

Uma disputa de muitos anos. Primeiramente o Sul era a porta dos mouros, daqueles que trouxeram o alguidar e a laranja. O norte era o reduto português, onde valorosamente a nobreza mantinha a bandeira de Portugal.

Hoje em dia a querela é outra. Destino de férias? História contra quilómetros de praia. Calor insuportável do interior contra ares do mediterrâneo. Para onde é que eu prefiro ir, adivinhem... mas existe gente que prefere o interior, normalmente por razões específicas. Eu cá dou-me melhor com praia.

Neste momento escrevo a crónica em questão do 15º andar do hotel Guadiana, em Monte Gordo. Consigo ver o mar daqui e não tenho alguém a questionar-me de 5 em 5 minutos o que quero almoçar amanhã... ao contrário de Chaves.

Mas Chaves tem a sua beleza:

Património histórico português, onde centenas de bastardos deram à luz, Chaves localiza-se a curta distância do fim do mundo, juntamente com Bragança, Miranda e outras terras que só se ouvem falar em documentários feitos em 87 da RTP2 e por pessoas que falam de um modo estranho.
Chaves é berço de infinita beleza histórica, com o seu forte, transformado num hotel, as muralhas e a torre que ergue no seu topo a bandeira portuguesa. Relatos indicam que esta foi adquirida num chinês ao pé da rua de Sto. António após a anterior ter sido utilizada como toalha no culminar das relações entre o guarda nocturno da torre e a irmã do sr. Engenheiro. A única prova de tal afirmação é o formato das torres da bandeira característico do filme do Aladino.
Mas o melhor da terra flaviense é sem dúvida o aglomerado populacional. Constituído por 1500 cidadãos efectivos e 77529 residentes em França, Chaves conserva o espírito e aroma da aldeia, sendo no entanto totalmente adaptada à vida moderna.
Os residentes efectivos acolhem qualquer indivíduo, desde que seja português, branco, recenseado, associado a um partido e clube de futebol e não goste de espanhóis.
Os residentes da época balnear, voltando às suas origens, distinguem-se por um dialecto que cruza o português e o francês, não adoptando porém qualquer das duas línguas correctamente. São agrupados frequentemente em famílias, o pai, a mãe e a prole numerosa. O pai afirma-se pelo fígado pronunciado no abdómen e a mesma camisa que usou quando emigrou para França com pelo menos 4 botões desapertados. A mãe é diferenciada por uma tentativa fútil de seguir as tendências da moda. A prole denota-se por um total desconhecimento das premissas sociais e código moral, gosto exuberado por hip-hop francês, evidenciando graves danos cerebrais e auditivos e vestes similares sobretudo em fibras sintéticas.
Chaves aposta no ambiente. Os seus outrora numerosos jardins estão agora cobertos por vastos campos de betão e cimento, evitando assim os gastos de água com vegetação.
Mas Chaves também é sinónimo de tecnologia e inovação! Grandes marcas do desenvolvimento são as lojas “multimédia” como a “Mundo da Música Megastore” com uns amplos 10 metros quadrados repletos de Cds, encontrados hoje apenas nas prateleiras das lojas nas áreas de serviço menos frequentadas. Com uma grande panóplia de lojas de informática, quase dá a impressão que alguém ali percebe daquilo.
Finalmente, Chaves é terra de saúde, lar das famosas termas flavienses. Não há melhor remédio para qualquer mal como água meio a ferver cheia de minerais arrastados do solo. Mas não digam nada à ASAE que se vêem os “avecs” e os “vacanses” a lavar os pés onde os velhinhos enchem os garrafões, levam aquilo tudo pela frente!

Concluindo, qualquer viajante que siga à descoberta por territórios nortenhos portugueses deve sem dúvida fazer um pequeno desvio e visitar Chaves, património, cultura, ambiente, tecnologia, saúde. Chaves: je t'aime trop.

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