domingo, fevereiro 28, 2010

O peso da (mediocr)idade


Meus contemporâneos, já repararam que estamos a ficar velhos? Há 2 dias um amigo meu disse-me que ia deixar de comer piza para manter a linha. Um pouco antes estava a referir a nostalgia de algo, os “bons velhos tempos”. O tempo passa a todos e a primeira reacção é “nós não estamos a envelhecer, é o mundo que está a ficar pior”. Notem no entanto, qual é o extracto populacional que usa mais essa expressão? Exacto, os velhinhos de boina. Aqueles que acordam de boina, sonham com ter relações de boina, espetam o carro nas paredes de boina e jogam ao mata com os velhos amigos de boina enquanto falam sobre como tudo está a ir para o inferno e eles foram a última geração que não era atrasada mental.
Eu já encomendei a minha boina axadrezada por e-mail, e vocês? Ninguém aqui está a ficar mais novo! Esqueçam a discoteca, beber o vosso peso em etanol, mudar o mundo, esqueçam adormecer às 7 da manhã, comecem a acordar às 6!

E ainda após esta pouco estruturada exposição, acredito que devido à teimosia de velho não acreditem em mim. Então verifiquem esta lista de pontos, se confirmarem mais que um então comecem já a procurar calças de flanela!

- Não sei como um equipamento de electrónica funciona (as mulheres podem saltar este ponto porque na generalidade não sabem);
- Não vou sair à noite porque está frio\a chover;
- Recordo com nostalgia algo que costumava fazer e pergunto-me se ainda tenho fôlego para o retomar;
- “Já não se faz música como antigamente”;
- “Os filmes do meu tempo é que valem a pena”;
- “Os adolescentes de hoje não sabem nada da vida”;
- “Lembram-se daquele carro? Isso é que era! Muito mais bonito e provavelmente punha os novos a comer fumo!”;
- “E se eu não fizesse o bigode? Se calhar até não ficava mal…”;
- Visto qualquer coisa porque provavelmente não me vou cruzar com ninguém importante hoje” (os sebentos por defeito podem saltar este ponto já que a camisola do Che é imperativa de qualquer modo);
- “Se sair mais cedo provavelmente não apanho trânsito\fila\gente”;
-Só vim ver este post após ter todas as minhas obrigações concluídas. É um sinal de maturidade, ou seja de velhice.

Ouvi dizer que há uma promoção de old spice e perfume de lavanda no Leclerco (na qualidade de velho nunca conseguirão dizer este nome em condições), corram já, é o que está na moda! E bolachas sem açúcar ou sal… e palmiers para diabéticos… e no lidl está um medidor da glicémia, mas acostumem-se a dizer “açúcar no sangue”.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Uma aula de jardinagem (farmacognósia) na unversidade de Lisboa

(Todo este texto é fictício… ou é? Não sei, nunca tive jardinagem)

9:02 – Cheguei! O professor está com ar de carrancudo… se eu vivesse no ossário do teatro anatómico também não chegava atrasado…

9:15 – Acabou o puxão de orelhas por não virmos às teóricas. Da próxima não venho só para não o ouvir. Os colegas das cadeiras da frente tomaram um banho de gafanhotos. Infelizmente, com a abundância de saliva que vai pelo chão já não se nota se estão ainda a lamber as botas.

9:17 – Oh não, ele tem um Mac!

9:25 – Não, nós não sabemos ligar Macs ao projector, se pagou tanto por um computador branco com uma maçã podia certificar-se que servia ao menos para trabalho…

9:42 – Chegou o técnico de informática da faculdade. Tem ar de quem está a lidar com crianças. O doutor tem 92 anos e um Mac, dê um desconto!

9:45 – O técnico foi chamar o porteiro, ele é capaz de saber como se liga o Mac ao projector.

9:45:33 – Um colega não aguentou e cometeu sepuku.

9:47 – Uns senhores de fato levaram o morto e o director disse-nos que não vimos nada. Parece que erasmus é uma profissão de risco.

9:50 – Chegou o porteiro e a menina da limpeza. Os tacos absorveram o sangue, vai ser complicado de disfarçar aquilo.

9:53 – Parece que o velho já está a falar dos usos medicinais da bolota há meia hora… Blá blá blá whiskas saquetas…

9:55 – “Olá, então, e que tal um sofá? Ou então uma estante em pinho e mel bem bonita”, não vou à moviflor desde mil nove e troca o passo!

10:00 – O MAC ESTÁ LIGADO AO PROJECTOR! SENHOR PORTEIRO, ABENÇOADO SEJA!

10:01 – …mas ele está a usar o powerpoint… podia ter metido a pen no computador da sala. Reforma-te!

10:05 – Sim, já percebi que a casca da batata era usada para tratar a calvice na Suazilândia antes de descobrirem as maravilhas do extracto de bílis de elefante. Prefiro um champô fortificante se não se importa.

10:05:03 – Champô, champô, champô, champô, champô, champô, champô…

10:24 – …champô, champô, champô, champô, champô, champô. Olha, a menina da limpeza não está de sutiã! Por isso é que está tudo tão caladinho!

10:52 – Onde é que eu ia?

10:55 – Ah, ele vai mostrar um vídeo da preparação do aerossol da papoila. Bacano! Ah, espera, o vídeo não arranca.

10:58 – O prof reparou no decote da menina da limpeza que ainda esfrega exaustivamente o sangue do nosso compatriota.

11:27 – Chegaram os paramédicos.

11:36 – A menina desiste de esfregar o soalho e vai-se embora. Os paramédicos começam a tentar reanimar o velho. Bah, ela já se foi e aula acabou faz 10 minutos. Vou jogar pacman nas arcadas!

The world in a grain of sand

Gostava de acordar amanhã e ouvir uma boa notícia. Gostava de sair à rua e ver um sorriso. Mas amanhã provavelmente vou ler o jornal e ficar a pensar “e se”, vou deambular por pessoas tão vivas quanto as suas sombras. O mundo está derrotado. E se isto fosse o high school musical começava agora a cantar e de repente estava tudo bem. Cresçam.

O mundo não é intrinsecamente bom. Nunca foi assim. A humanidade lutou muito para chegar a um ponto em que se pondera se a vida deveria ser tão árdua sem pensar se não somos nós que estamos mais moles.

Amanhã não vai estar calor. Vou sair e ver hordas de xungas a cruzar o meu caminho. Vou ter que lutar com sistemas burocráticos, chegar à razão com burros incultos e teimosos e no fim do dia, como prova de todo o meu esforço, paciência e bondade, vou ficar desapontado com uma mulher. Vou beber uma cerveja com os meus selectos amigos, vou sorrir e recomeçar no dia seguinte.

A vida é difícil para a maioria. E a maioria dessa maioria perde a vida a lamentar-se da sua sina. Cheirem uma flor, olhem para um céu cinzento, parem por um segundo para lembrar uma aventura.

E lembrem-se: ao menos já não precisam de esperar nas finanças para entregar o IRS.