sábado, março 24, 2012

Para que serve a greve?

Sou um pobre coitado sem perspectiva. Há vários anos que tento, sem qualquer sucesso, entender quais são os objectivos e metodologia da greve. Possivelmente é algo que vou “entender quando começar a trabalhar”, como dizem todas as pessoas que são abençoadas com um conhecimento do mundo maior que o meu.

Isso não me impede de tentar averiguar essa lacuna no meu conhecimento.

Retratando o que aconteceu esta quinta-feira com a última greve geral e começando com um pequeno modelo, as filmagens de Oeiras em que um pequeno grupo, não maior do que 30 pessoas, tentou impedir que os camiões do lixo não saiam para fazer o seu trabalho. Peço perdão, em linguagem revolucionária é “persuadir os colegas a aderir à greve”. Neste caso não conseguiram, estava presente um cordão policial, desculpem, de fascistas, que impediu o acesso do corpo de greve ao portão por onde os ditos camiões passaram. E como sei eu que eram fascistas? Porque um camarada me elucidou repetindo aos ouvidos da PSP com uma cadência tão boa que só podia ser instrutor de música ou grevista a tempo inteiro.

Outra situação caricata foi a deposição de duas almas na linha de comboio no Rossio para impedir a circulação do comboio. Faz sentido, provavelmente queriam persuadir o seu colega comboio a ficar na estação ou, melhor ainda, ir com eles à praça do Rossio dar cabo da esplanada do Pessoa (que com todo o tumulto não admira que não tenha conseguido escrever nada há tanto tempo). Quanto ao maquinista, imagino que estivesse a realizar os serviços mínimos mas este tem uma cabina com porta, não precisa que o comboio lhe conte da greve.

Por falar na esplanada, acho lamentável que a polícia tenha dado cabo dela e atirado ovos às pessoas que tentavam trabalhar/levantar dinheiro. Esses fascistas têm que ser postos no lugar e eu sugiro que se proíba a venda de ovos a todas as famílias que têm membros da polícia. E deixo o meu mais sincero pesar à senhora jornalista que foi agredida, espero que a cirurgia à cabeça corra bem e que desenvolva a capacidade de perceber que meter-se a 2 metros da polícia entre esta e os manifestantes é pedir para ficar com pelo menos uma objectiva rachada.

E no que deu isto tudo? Não sei bem. Ouvi dizer pela CGTP que foi mais uma vitória mas não mostraram a taça. Acredito que tenha sido uma taça muito bonita porque a populaça da greve andava toda contente na sexta-feira. Parece que também muito mudou na política, os deputados devem todos ter chegado atrasados ao jantar por causa do trânsito da IC19.
Volto então à estaca zero, absolutamente nada mudou. Mas eu não sou ninguém para falar, como não vou à greve tentar mudar o mundo pelo poder da minha laringe no meio da multidão então não me posso queixar.

Remeto-me novamente ao silêncio e hiberno até à próxima manifestação de acefalia pública.

Nota: acredito no entanto que o passeio no Rossio tenha sido agradável para quem ia mais atrás (principalmente aquele senhor que levou o pai reformado e os dois filhos em cadeirinha de bebé – doutrinação juvenil) e como estudante da área da saúde recomendo andar pelo menos 30 minutos por dia.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Inbreeding

 

Recentemente tenho vindo a desenvolver uns atritos com a minha faculdade. Pronto, desde há quase 6 anos que desenvolvo atritos com a porcaria da FML. No entanto o que se tornou um amor afectuoso por uma máquina estragada, como o ursinho velho das crianças ou o estado social dos adultos, tornou-se há poucos meses num ódio intrínseco que apenas se desvanecerá no dia em que eu estiver acondicionado numa bonita urna (sim, cremado).

 

O que descobri muito recentemente é que a minha faculdade está intencionalmente e de uma forma pouco subtil a tentar provocar uma espécie de purificação da espécie, a criação de uma aldeia fechada constituída somente por médicos e a sua descendência.

E este facto é rapidamente discernido pelos meus colegas, assim lhes seja apontado. O número de relações afectivas dentro do curso é abismal, com todos os efeitos deletérios que implicam (casais que se separam, procedendo a marcação de território e divisão de bens – amigos. Felizmente não recorrem a urina… que eu saiba).

 

Claro que o protótipo de colega concordaria com a afirmação acima mas diria que tal é “obra do acaso”, ou atribuiria este fenómeno de inbreeding à compatibilidade entre estudantes de medicina, essa raça tão devota ao intelecto…cof… e astuta…cof. Vá, bêbados e incultos em 99.8% dos casos.

 

Mas não. A prova viva está mesmo à frente do meu nariz: os exames. Estes são o derradeiro instrumento de controle das massas estudantis. Em todo o meu percurso de faculdade nunca tive uma época de exames a coincidir com as outras faculdades e assim a hipótese de estar de férias com outras pessoas que não fazem piadas com fluídos corporais torna-se diminuta. Os festivais como SBSR e outros com siglas e artistas são sempre antes ou em cima “daquele exame super difícil”. Uma vez seria coincidência. Já lá vão 6 anos e as únicas épocas de exame que não seguem esta regra são 4ªs e 5ªs fases, inventadas por despacho em Maio do ano seguinte, para passar a malta (se não se ensinam médicos, passam-se médicos administrativamente).

 

Espero que todos se estejam a divertir neste carnaval. Quanto a mim, vou continuar a estudar e esperar que se arranje uma porcaria qualquer em Março para ir dar uma volta com a minha namorada que não inclua a rota casa-macdonalds/H3-casa.

 

Este texto foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico do proof-reader do meu PC.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Resumo das Actividades

 

O DoaL foi uma experiência muito gratificante durante bastante tempo, onde eu me divertia a escrever o que viesse à cabeça. Entretanto fui convidado (ou convidei-me, nunca chegarei a saber) a escrever no Replicador, um blog de gente crescida onde se falava em política e genética – por outras palavras, não podia falar das utilidades mecânicas/civis da sopa da cantina. E por mais um naco de tempo estive divertido (imaginem uma pessoa mentalmente desafiada a saltitar num campo de flores, era mais ou menos assim) com esse projecto onde realmente liam o que eu escrevia.

Mas entretanto o Replicador perdeu a sua viga mestra, o Filipe Faria foi convidado para o Insurgente (nunca te perdoarei Filipe, choro todas as noites desde esse dia). Com uma pessoa manifestamente instável e meia dúzia de fantasmas ao volante, vi-me forçado a recrutar. Aí a sensação foi a de ter saído do jardim do Éden para iniciar o período do homem recolector (uma palavra bonita para andar pela floresta a comer relva e restos deixados por animais com ferramentas letais de origem), foi duro mas senti-me um homem realizado antes de morrer na velha idade de 32 anos porque pisei um pau.

No meio disto tudo nasceu o ML – Movimento Libertário, em que tive o privilégio de me tornar director, o que sucedeu possivelmente por ter sido eu em grande parte a formar a direcção. Tem sido uma experiência fabulosa mas sabem que mais? As pessoas não gostam de política. As pessoas não gostam especialmente de:

a) terem as crenças contrariadas com dados e lógica;

b) notarem que têm inúmeros axiomas errados requerendo o aprender de uma nova filosofia.

Ignorando isto tudo, porque fui buscar o DoaL ao fundo do baú? Porque sinceramente acho de mau tom criar um novo blog com um título menos piegas, há que assumir os erros. E porque pelos vistos não sou capaz de escrever constantemente sobre política e sociedade. Há umas semanas tentei produzir um artigo sério que pela 2ª linha se tornou um relato de um gato que comia piza ao pequeno almoço… preciso de arejar as ideias.

 

Assim reactivo oficialmente a chaminé do conhecimento parvo: Draft of a Life!

 

Queria por fim agradecer a duas ou três pessoas (não tenho paciência para voltar a esta linha e escolher o número certo):

À menina Rita que tanto me tem apoiado nestes tempos hostis e cuja capacidade gráfica fez do ML uma página que dá para apresentar aos pais sem eles se sentirem compelidos a dizer “tãoooo bonito, vamos pôr na porta do frigorifico para podermos olhar para ele todos os dias!”.

À Daniela que produz tantos textos que consegue vencer pelos argumentos ou pelo cansaço de fazer scroll down. (Fico feliz por estares a seguir a tua reabilitação das 1200 palavras) Prometo que publicarei no ML assim que tiver oportunidade de ler bibliografia, acontece que escrever asneiras é muito mais simples e não implica tantas citações.

Aos donos da loja de animais do Spacio por não me correrem de lá quando vamos ver os cães e os gatos.