domingo, novembro 11, 2007

So he gazed out the mask

Draft of a life é um blog sobre a vida. Não a vida mundana, superficial, o "camisola vermelha ou verde" diário mas uma procura mais profunda do sentido das coisas, um ponto de interrogação no fim dos dogmas ditados por um bloco de betão a que chamamos sociedade. Seja esta jornada pela complexidade do mundo escrita sobre a forma de uma crítica sádica, uma crónica pesada ou mesmo uma ou duas linhas que nem parecem ter contexto mas no final são mais coerentes que o Paulo Bento, desde que feita de uma forma cuidada, merece sempre destaque neste blog.

Hoje apresento um texto de Diogo Santos, um dos meus melhores amigos. "Um eco perdido" ultrapassa, com a sua modesta página, 99% das escrituras nas prateleiras do top da Fnac (1% é o texto que diz "Top" em cima dos livros, tem um tipo de letra extremamente apelativo e sensual). A meu entender é um pouco pesado mas qual de nós não olhou em volta um dia para se deparar com um cenário cinzento que afinal era a cinza da nossa existência pousando no mundo como a fuligem do apocalipse?


Por favor deixem os vossos comentários, o Diogo poderá muito bem publicar o próximo texto neste blog já sem o meu prefácio e assinatura no fundo!



Um Eco Perdido…


Levantei os olhos cansados, muito pesar me fazia a existência. A solidão cortante trespassava-me como se de vidro se tratasse. Olhei o tecto angustiado, mais um dia, mais um doloroso dia de existência. É difícil pensar na vida com optimismo quando o sofrimento já nada surpreende. As cores do Outono para mim são cinzentas, quão cinzentas como os tristes espectros que ao meu lado se sentam no comboio. Dedicados serventes caminhando para o seu propósito, frios, insubstanciais e por isso, na sua inumana servidão, me arrastam ainda mais para os meandros da minha já crescente apatia. Os sons já nada de natural têm, são simplesmente abjectos pré-fabricados para que o tempo não paralise, um símbolo de que a prisão continuará.
Lentamente abro a mala, tenho algo que preciso de ler, ou que julgo que preciso de ler. O mecanismo da tomada de decisão já estranho me parece, a sua falta de automatismo é incómoda, mesmo assim, os meus olhos frágeis pousam sobre linha após linha, sorvendo-as com pouca naturalidade. A voz repetitiva anunciando estações intermináveis faz com que cada segundo pareça alongar-se, a perspectiva monótona de uma rotina inquebrável recai sobre mim. Há instantes em que as lágrimas parece que afluirão à minha cara, como se a prisão existencial finalmente me fizesse soçobrar. É no entanto tudo demasiado mecânico e sem vida para abarcar o sentimento humano ou a sua expressão, isso seria sair da formatura, quebrar uma corrente de certa forma. Não, só choro sozinho, ligando os meus refúgios às minhas vivências, em momentos nos quais existo verdadeiramente.
Caminhando no chão frio e escuro dirigindo-me ao que é suposto, ao que sempre foi suposto, penso o quão fora de mim próprio me sinto. O meu corpo vazio arrasta-se rua após rua, animado por nada mais que uma presunção existencial. Os sorrisos que me recebem pouco ou nada me dizem, tento chegar às suas intenções ocultas; enterradas numa máscara regular, o quão regular possível. As linhas faciais chegam ao ponto de se confundirem na sua pérfida desumanidade. Quando dou por mim já o meu invólucro toma a sua face suposta, age da forma suposta, por muita que a minha alma grite. O imenso silêncio percorre-me num implorar surdo sem destino. … “Dare ga… Dare ga Tasukete…”.O vazio continua a afluir a mim, negligenciando qualquer saída, qualquer subtileza da unicidade pessoal, torrentes cruéis oprimem e dilaceram sem piedade. O que de mim floresce, desta terra desolada e sem vida parece por si só uma beleza corrupta à espera do seu quinhão de desespero. É assim que a minha torturada existência te vê, é assim que os meus olhos tristes te acarinham. Será que aqueles tímidos sussurros que ainda me lembram quem sou te acordaram em mim?


Diogo Santos, 11 de Novembro de 2007

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2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei :D
Vale, sem duvida, os 99%

Anónimo disse...

Fosga-se! Eu vou só ali dar um tiro na boca com a inveja que tenho deste texto e já volto...

Voltei... agora a sério... brutal (oh sôr Diogo e mostrar estas coisas ao eu, não?).

Definitivamente passei demasiado tempo sem vir a este blog, na verdade nunca fui pessoa de blogar muito (nada para ser preciso) mas queria dar os meus sinceros parabéns tanto ao cérebro por detrás deste blog como também ao escritor honorário, dois grandes, gigantes, enormes, colossais amigos! Prometo vir cá mais vezes quando tiver de estudar e não me apetecer XD


Ass (rabo em inglês): Kummando (aquele aparelho para mudar os canais, eu cá não sou da tropa)