sábado, março 07, 2009

Grandes contos de homens perdidos no seio descaído e infindável da história

Este é a biografia reduzida da vida de Ricardo, o primeiro homem. Convém salvaguardar da frase anterior que Ricardo não era um heterónimo ou pseudónimo de Adão, e que este último era, de facto, uma menina.

Num tempo em que o pico da tecnologia era uma caverna com fogueira, refiro-me claro à Era pré-bimby, há mais de 100 anos atrás, em que as tendências da moda variavam entre leopardo e lombo de mamute e os vestidos da Fátima Lopes cobriam muito pouco (pelos vistos nada mudou nesta última), não existiam homens. Claro que dizer isto é de certo modo absurdo sempre foram necessários homens no processo de fertilização do óvulo e no caso de ser mandatória alguma obra de bricolage na sala (que em termos de caverna também é a cozinha, casa de banho e escritório). Sim, existiam homens, seres com um cromossoma Y. mas todos eles centravam-se em valores que tendiam para a sobrevivência. Proteger do frio, conservar comida, manter o fogo aceso.

E finalmente, após demasiados anos de desenvolvimento relâmpago e relativa prosperidade, numa tarde de verão no apartamento 322 do bloco basáltico da Beloura, nasceu o Ricardo. Curiosamente na mesma tarde em que a sua mãe morreu de sépsis, um mistério da medicina. Era um rebento rosado de 3,5Kg, não obstante a sua fácies já traduzia uma sabedoria de vida muito própria, denominada hoje por 76,7% dos geneticistas como “saloio” e pelos restantes por “falha na segregação dos cromossomas durante a meiose”.

A infância de Ricardo foi bastante atribulada, sendo afectado em tenra idade com uma meningite. Já nessa altura os serviços hospitalares da região de Cascais eram medíocres, “ganhou calo”, reportam ainda hoje os descendentes dos apóstolos de Ricardo. Sobreviveu, é o que é preciso. E já com uns sólidos 17 anos, Ricardo tornou-se a lenda que os livros de história do secundário se recusam a contar.

Aos seus olhos era absurdo passar tardes a riscar bonequinhos nas paredes e não era atitude de um homem a de se precaver contra o perigo. Esta crise de meia-idade obrigou-o a sair do conforto do apartamento 322 para procurar o sentido da vida, deixando para trás a sua moderada prole de 17 crianças, órfãs de mãe e agora abandonadas.

Durante dois dias caminhou à descoberta, espalhando a sua filosofia por onde passava, uma de procrastinação e da prova da masculinidade pela execução de tarefas inúteis, perigosas e principalmente idiotas.

Ao terceiro dia sucumbiu à fome, ao frio e aos dentes de uma ratazana bebé que já não encontrou ali grande resistência.

Oh gloriosa a história de Ricardo!

E abençoados os seus apóstolos. Estes, originados dos que aderiram à filosofia de Ricardo e 5 dos seus filhos que sobreviveram alimentando-se dos outros 12, estabeleceram as sólidas fundações que ainda hoje, no ano 5(??????) da era pós-bimby, guiam os meus compatriotas a fazer bombas caseiras, concursos estúpidos (que mais que habitualmente resultam em mutilação peniana) e não comprar iPods.

Aqui deixo algumas provas da sabedoria de Ricardo, adaptadas para o quotidiano de 2009:

O telemóvel de um homem deve ser o mais avançado e mais pesado, conjugando estes factores de preferência com arestas cortantes;
Qualquer actividade inócua deve ser executada por um Homem da maneira mais penosa possível;
A masculinidade define-se pela capacidade estomacal para líquidos de um homem;
O frio não existe, nem a doença, fome ou qualquer manifestação fisiológica que não o desejo de copular;
Qualquer competição entre dois ou mais homens deverá presentear não o vencedor mas sim o vencido, com o máximo de humilhação ou dor (sabendo que a dor não existe no entanto) possível.
Este texto foi escrito há 19 anos atrás, no entanto, no sentido de não existir uma necessidade visceral da sua publicação, só agora foi enviado para o blog.

Sem comentários: