segunda-feira, abril 28, 2008

Culto do "pois"

Os 19 anos foram o meu desabrochar pessoal para a questão vida-morbilidade-morte. Pelo menos numa perspectiva do que me toca mais fundo e, desde a morte do meu avô, sinto mais a dor e mortes à minha volta.

Mas não vou incomodar aqueles que já partiram deste mundo. O que proponho aqui é uma pequena análise de todas as personagens da familiar peça do "não sei quem está muito mal".

Ao ser confrontado com a afirmação acima, até agora verifiquei que ninguém sabe verdadeiramente responder. Dizem "pois", tanto verbalmente como corporalmente, ou desbobinam os clichés todos que vão apanhando ao longo da vida como "estava na altura", "força", "X não quereria que estivesses triste". Não é que uma pessoa não sinta realmente o que está a dizer mas na qualidade de seres humanos não me parece que estejamos preparados para problemas que possam por em causa a nossa existência ou a de alguém que gostamos.

Portanto estamos de certo modo destinados a proferir clichés. Isso faz de nós más pessoas? Não creio, simplesmente não temos outra escolha. Temos apenas que fazer as palavras valerem de algo!


Presumo que todos os leitores tenham ido a um velório ou funeral em determinada altura da vossa vida. E provavelmente repetiram as palavras que já ouviram cem vezes. Àqueles que as proferiram apenas para "não parecer mal", por favor retirem-se deste blog para a vossa egocêntrica existência. Os outros quiseram consolar alguém e fizeram-no da única maneira que sabiam. É este o aspecto importante, a acção. De todas as pessoas que vão a um funeral gastar saliva com familiares, um punhado realmente faz algo pelos que estão mal depois da cerimónia. De repente a família de um morto fica bem?


Yeah, right!


O poder da palavra hoje em dia é sobrevalorizado. Isto porque as pessoas esqueceram-se de que se a palavra é uma espada, continua a precisar de um braço a abaná-la de um lado para o outro! A espada só por si não serve de nada, apenas para enfeitar.

Concluindo agora este deprimente, contudo necessário artigo, da próxima vez que vos puserem uma bomba nas mãos, não pensem "o que posso dizer" mas sim "o que posso fazer". As acções pesam muito mais que as palavras e quando sabemos o que fazer é mais fácil saber o que dizer. E até pode sair um cliché da vossa boca, não são as palavras que disseram que o vosso amigo vai lembrar, vai ser aquele dia em que o foram visitar para tentar animá-lo e fazer regressar ao mundo dos vivos. E se levarem uma sopinha, tanto melhor.

PS: este artigo não é um manual de sobrevivência para velórios. É sim uma sugestão para lidar com todo o tipo de bombas com uma das minhas atitudes mais publicitadas: não digam, façam!

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