…duas medidas de farinha, juntas três ovos e bates, com cuidado, que a farinha salta se puseres a batedeira muito forte. Ah, olá, vejo que tiraram uns momentos do vosso dia para praticarem a auto-mutilação psicológica. Adiante então!
Esta é uma história sobre coragem, sobre o gajo que enche os pulmões, dirige-se à pessoa que gosta e a convida para sair. Esta é uma história sobre álcool. Mentira. Mas é uma história sobre coragem.
Quanta coragem é necessária para um homem convidar uma mulher para sair? Depende. Quanta coragem é requerida a um homem para se dirigir a um estranho? Ronda o zero. Mas e no cenário em que um moçoilo convida uma moçoila amiga para sair com o intuito de levar a amizade ao próximo nível?
Um simples “Queres ir ao cinema” esconde nas entrelinhas “Olá Berlígia, queres ir comigo dar uma volta, ver um filme romântico enquanto eu desesperadamente procuro sinais de que gostas de mim e no fim te tente beijar, arriscando provocar danos irreparáveis à nossa amizade que apenas serão superados quando eu arranjar outra namorada, mesmo que secretamente ainda goste de ti, no sábado está bom?”. O primeiro comentário será, claro, “é chato”.
(Aparte, há mal se eu abater a criança aqui do meu prédio? É que o seu gemido é ligeiramente irritante… aceito sugestões para tudo “parecer um acidente”).
Agora de cabeça mais fria (e com a criança devidamente desmembrada e guardada na minha arca para amanhã fazer um arrozinho de cabidela), analisemos a situação devidamente. Recordo que este é somente o meu ponto de vista e que eu não sou de forma alguma afiliado com a igreja do reino de Deus – aquela da pomba, logótipo mesmo ranhoso. Temos uma amiga e começam a surgir sentimentos. É nosso dever primário averiguar tais sentimentos, de modo a, como se diz na gíria, “não fazer m***a”.
Tomemos como verdade que tais sentimentos estão confirmados. E para simplificar a escrita, visto que sou um tanto quanto preguiçoso e estou farto de escolher formas verbais adequadas, vamos assumir que sou eu que gosto da amiga, caso hipotético. E se alguém me vier arreliar o juízo com isto vai acabar ao lado da menina que vivia aqui no prédio, nem que tenha que retirar as cuvetes de gelo do congelador. Tenho certeza dos meus sentimentos, só não sei o que fazer agora.
O que fazer?
Posso fechar-me, continuar amigo da Berlígia como se nada se passasse e chorar todas as noites porque nunca atingirei outro grau de felicidade. Ou então posso pensar. Assumimos neste caso que eu sou capaz de pensar. A que ponto é possível manter uma amizade (e não estou a falar de amizades ultra-congeladas que se preparam em 7 minutos no micro-ondas, refiro-me a uma Amizade, com partilha, cooperação, honestidade e outros adjectivos) sã, quando escondemos tal sentimento? Eu mudo de voz, tenho conversas mais evasivas, sempre de modo a não falar de mulheres, os meus sentimentos e perspectivas futuras. É difícil que a Berlígia não perceba que algo se passa. E depois a vergonha é maior…
Posso simplesmente esquecer. Mas, sendo constantemente lembrado da Berlígia, aquando me encontro com ela, torna-se uma tarefa desumanamente complicada. É possível que tenha a sorte de entretanto aparecer uma Marineide que me ajude a diluir a memória da outra paixão. No entanto é também provável que eu esteja de tal modo vidrado na Berlígia que quando a Marineide passar ao meu lado e esfregar a sua tonificada “bundinha” na minha genitália, ou revelar ter os mesmos interesses que eu numa conferência acerca dos meus interesses, eu nem repare nela.
Posso por outro lado ser sincero para comigo. Corro o risco de perder uma amiga? Não, corro o risco de tornar uma amizade um pouco estranha durante uns tempos e, obviamente, o risco de ser rejeitado, o que nunca foi pêra doce, mais ainda com alguém que respeitamos. Claro que é este o caminho para a felicidade e não é, nem nunca foi, um caminho em que não há risco. Eu (a personagem hipotética que gosta da Berlígia) tenho sempre de resolver este sentimento. E na minha (o João, indivíduo residente no mundo real) opinião, isso passa por entrar na relação com a entidade alvo de tal afecção ou ser rejeitado pela mesma e, reconhecendo a impossibilidade de concretização dos meus planos, acabar por esquecer.
Agora, supondo que tinha pensado no assunto, decido passar à acção. Convido-a para sair, bla bla bla, cada um tem a sua técnica, bla bla, os sinais, bla bla. Ou vai ou não vai, se for, tanto melhor, se não for, é altura de ir buscar o alcatrão para atapetar a trampa da autarquia anterior. O que para um senhor na minha idade é tão comum como urinar. Constantemente fazemos asneira e constantemente resolvemos os problemas que criámos, numa estabilidade um tanto quanto instável, à semelhança das interacções económicas China-EUA (fica para outro dia este tópico).
Pareceu muito fácil? Claro, saltei o maior problema de todos. Esse dilema reside a sul do pénis e produz normalmente espermatozóides. É preciso aquela fruta vermelhinha que acompanha a alface na salada. É preciso pimentos tomates. Curiosamente, mesmo no topo da cadeia alimentar, continuamos a jogar estrategicamente para evitar rejeições, evitar sairmos magoados. Ainda assim, a tomada de acções está sempre a nosso cargo, há sempre um momento em que é preciso “dar o salto” e nunca ninguém o dá por nós. Podemos pedir mil conselhos, pesquisar todos os sinais. No fim, alguém tem que se chegar à frente e dizer “gosto de ti”, quer seja por palavras ou um beijo ou outro gesto reconhecido universalmente. Alguém tem que ser concreto e parar os rodeios, caso contrário, andam duas pessoas num carrossel sem nunca se tocarem. E contar com a outra pessoa para dar o primeiro passo é um erro porque ela pode estar a fazer o mesmo.
Finda a narração do João hipotético.
Quando acabo de escrever algo para este blog normalmente penso duas coisas: “bolas, isto não presta para nada mas alguém há de comer” e “não disse nada de novo”. São ambas verdade. Qualquer um com dois dedos de testa percebe estas linhas de pensamento. E no entanto acabamos sempre por esquecer. Para a rapariga de quem gostamos, esquecemos sempre na equação a lógica. Daí que escreva isto, porque alguém no mundo precisa de o ler, perceber o valor da sua coragem e a natureza colectiva dos seus medos.
Concluindo, aproveito para fornecer uma receita de arroz de cabidela:
Ingredientes:
1 galinha menina que estava a fazer muito barulho na escada
1 dl azeite
3 c. sopa vinagre
1 cebola
2 dentes de alho
100 g toucinho
1 folha de louro
1 malagueta
1 tigela malga taça medida mais ou menos padrão de arroz
q.b. sal
1. Aproveite o sangue da galinha menina deitando-o numa tigela com três colheres de sopa de vinagre para que não coalhe. No entanto, como alternativa ao sangue consulte o seu talho.
2. Numa panela ponha a refogar no azeite a cebola e os alhos picados. Junte-lhe a galinha menina cortada aos bocados pequenos e os miúdos (excepto o fígado), o toucinho cortado, o louro e a malagueta cortada ao meio. Refogue tudo, tempere com sal e deixe estufar em lume brando.
3. Cubra a carne com água quente, tape a panela e deixe cozer até a galinha menina ficar macia.
4. Depois de cozida retire a galinha e rectifique a água para que fique na proporção de 3 de água para 1 de arroz para a cozedura do arroz. Assim que levantar fervura junte o arroz.
5. Três ou quatro minutos antes de ficar pronto junte o sangue, misture-o bem, junte também a carne e deixe apurar.
Esta é uma história sobre coragem, sobre o gajo que enche os pulmões, dirige-se à pessoa que gosta e a convida para sair. Esta é uma história sobre álcool. Mentira. Mas é uma história sobre coragem.
Quanta coragem é necessária para um homem convidar uma mulher para sair? Depende. Quanta coragem é requerida a um homem para se dirigir a um estranho? Ronda o zero. Mas e no cenário em que um moçoilo convida uma moçoila amiga para sair com o intuito de levar a amizade ao próximo nível?
Um simples “Queres ir ao cinema” esconde nas entrelinhas “Olá Berlígia, queres ir comigo dar uma volta, ver um filme romântico enquanto eu desesperadamente procuro sinais de que gostas de mim e no fim te tente beijar, arriscando provocar danos irreparáveis à nossa amizade que apenas serão superados quando eu arranjar outra namorada, mesmo que secretamente ainda goste de ti, no sábado está bom?”. O primeiro comentário será, claro, “é chato”.
(Aparte, há mal se eu abater a criança aqui do meu prédio? É que o seu gemido é ligeiramente irritante… aceito sugestões para tudo “parecer um acidente”).
Agora de cabeça mais fria (e com a criança devidamente desmembrada e guardada na minha arca para amanhã fazer um arrozinho de cabidela), analisemos a situação devidamente. Recordo que este é somente o meu ponto de vista e que eu não sou de forma alguma afiliado com a igreja do reino de Deus – aquela da pomba, logótipo mesmo ranhoso. Temos uma amiga e começam a surgir sentimentos. É nosso dever primário averiguar tais sentimentos, de modo a, como se diz na gíria, “não fazer m***a”.
Tomemos como verdade que tais sentimentos estão confirmados. E para simplificar a escrita, visto que sou um tanto quanto preguiçoso e estou farto de escolher formas verbais adequadas, vamos assumir que sou eu que gosto da amiga, caso hipotético. E se alguém me vier arreliar o juízo com isto vai acabar ao lado da menina que vivia aqui no prédio, nem que tenha que retirar as cuvetes de gelo do congelador. Tenho certeza dos meus sentimentos, só não sei o que fazer agora.
O que fazer?
Posso fechar-me, continuar amigo da Berlígia como se nada se passasse e chorar todas as noites porque nunca atingirei outro grau de felicidade. Ou então posso pensar. Assumimos neste caso que eu sou capaz de pensar. A que ponto é possível manter uma amizade (e não estou a falar de amizades ultra-congeladas que se preparam em 7 minutos no micro-ondas, refiro-me a uma Amizade, com partilha, cooperação, honestidade e outros adjectivos) sã, quando escondemos tal sentimento? Eu mudo de voz, tenho conversas mais evasivas, sempre de modo a não falar de mulheres, os meus sentimentos e perspectivas futuras. É difícil que a Berlígia não perceba que algo se passa. E depois a vergonha é maior…
Posso simplesmente esquecer. Mas, sendo constantemente lembrado da Berlígia, aquando me encontro com ela, torna-se uma tarefa desumanamente complicada. É possível que tenha a sorte de entretanto aparecer uma Marineide que me ajude a diluir a memória da outra paixão. No entanto é também provável que eu esteja de tal modo vidrado na Berlígia que quando a Marineide passar ao meu lado e esfregar a sua tonificada “bundinha” na minha genitália, ou revelar ter os mesmos interesses que eu numa conferência acerca dos meus interesses, eu nem repare nela.
Posso por outro lado ser sincero para comigo. Corro o risco de perder uma amiga? Não, corro o risco de tornar uma amizade um pouco estranha durante uns tempos e, obviamente, o risco de ser rejeitado, o que nunca foi pêra doce, mais ainda com alguém que respeitamos. Claro que é este o caminho para a felicidade e não é, nem nunca foi, um caminho em que não há risco. Eu (a personagem hipotética que gosta da Berlígia) tenho sempre de resolver este sentimento. E na minha (o João, indivíduo residente no mundo real) opinião, isso passa por entrar na relação com a entidade alvo de tal afecção ou ser rejeitado pela mesma e, reconhecendo a impossibilidade de concretização dos meus planos, acabar por esquecer.
Agora, supondo que tinha pensado no assunto, decido passar à acção. Convido-a para sair, bla bla bla, cada um tem a sua técnica, bla bla, os sinais, bla bla. Ou vai ou não vai, se for, tanto melhor, se não for, é altura de ir buscar o alcatrão para atapetar a trampa da autarquia anterior. O que para um senhor na minha idade é tão comum como urinar. Constantemente fazemos asneira e constantemente resolvemos os problemas que criámos, numa estabilidade um tanto quanto instável, à semelhança das interacções económicas China-EUA (fica para outro dia este tópico).
Pareceu muito fácil? Claro, saltei o maior problema de todos. Esse dilema reside a sul do pénis e produz normalmente espermatozóides. É preciso aquela fruta vermelhinha que acompanha a alface na salada. É preciso pimentos tomates. Curiosamente, mesmo no topo da cadeia alimentar, continuamos a jogar estrategicamente para evitar rejeições, evitar sairmos magoados. Ainda assim, a tomada de acções está sempre a nosso cargo, há sempre um momento em que é preciso “dar o salto” e nunca ninguém o dá por nós. Podemos pedir mil conselhos, pesquisar todos os sinais. No fim, alguém tem que se chegar à frente e dizer “gosto de ti”, quer seja por palavras ou um beijo ou outro gesto reconhecido universalmente. Alguém tem que ser concreto e parar os rodeios, caso contrário, andam duas pessoas num carrossel sem nunca se tocarem. E contar com a outra pessoa para dar o primeiro passo é um erro porque ela pode estar a fazer o mesmo.
Finda a narração do João hipotético.
Quando acabo de escrever algo para este blog normalmente penso duas coisas: “bolas, isto não presta para nada mas alguém há de comer” e “não disse nada de novo”. São ambas verdade. Qualquer um com dois dedos de testa percebe estas linhas de pensamento. E no entanto acabamos sempre por esquecer. Para a rapariga de quem gostamos, esquecemos sempre na equação a lógica. Daí que escreva isto, porque alguém no mundo precisa de o ler, perceber o valor da sua coragem e a natureza colectiva dos seus medos.
Concluindo, aproveito para fornecer uma receita de arroz de cabidela:
Ingredientes:
1 galinha menina que estava a fazer muito barulho na escada
1 dl azeite
3 c. sopa vinagre
1 cebola
2 dentes de alho
100 g toucinho
1 folha de louro
1 malagueta
1 tigela malga taça medida mais ou menos padrão de arroz
q.b. sal
1. Aproveite o sangue da galinha menina deitando-o numa tigela com três colheres de sopa de vinagre para que não coalhe. No entanto, como alternativa ao sangue consulte o seu talho.
2. Numa panela ponha a refogar no azeite a cebola e os alhos picados. Junte-lhe a galinha menina cortada aos bocados pequenos e os miúdos (excepto o fígado), o toucinho cortado, o louro e a malagueta cortada ao meio. Refogue tudo, tempere com sal e deixe estufar em lume brando.
3. Cubra a carne com água quente, tape a panela e deixe cozer até a galinha menina ficar macia.
4. Depois de cozida retire a galinha e rectifique a água para que fique na proporção de 3 de água para 1 de arroz para a cozedura do arroz. Assim que levantar fervura junte o arroz.
5. Três ou quatro minutos antes de ficar pronto junte o sangue, misture-o bem, junte também a carne e deixe apurar.
OBS: nenhuma menina sofreu qualquer lesão no decorrer da produção deste "trabalho".
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